Lembro de um sábado à tarde, quando uma comerciante ligou-me e pediu se
o protesto realizado em Teutônia chegaria em seu bairro. Na resposta afirmei
que ela não deveria se preocupar, que o protesto local era tranquilo e sem
qualquer tipo de vandalismo. Mas senti o medo nas palavras daquela mulher...
Era quase um terror gritante que assombrava até minha pacata cidade
natal. Grande ilusão, meses depois tudo voltou ao normal e ninguém mais lembra
de ir às ruas, e se for, vai com medo da própria sombra, principalmente nas
noites escuras e quase nada assustadoras de um bairro do interior.
Depois de tanto gritarem "vem pra rua", é triste o fato de que
todos tenham voltado para as suas casas e continuam na cômoda vida de um
simples brasileiro. Parece uma piada dizer que nós vamos reivindicar nossos tão
batalhados direitos, principalmente para aqueles que veem tudo do lado de fora
dos acontecimentos.
- Todos os brasileiros estão protestando, indo para a rua reivindicar
seus direitos, vamos também! Chega de ficar calados - disse o jovem motivado.
- Que ilusão. Eles estão somente dando uma nova oportunidade de os
ladrões roubarem e dos governantes aparecerem ainda mais na mídia - respondeu
um homem da capital.
Ouvir isso deve ser um choque para qualquer um. Ler, também. Saber que
duvidam da nossa capacidade é de se indignar. Então, indignem-se! Estão
duvidando que eu, você, ele, nós consigamos fazer algo melhor e que realmente
mude positivamente a situação da NOSSA terra. Eu também quero meus direitos,
você não quer? Luto por eles e quero todos lutando juntos, por um ideal, com
organização e lealdade ao seu grupo.
Entendo as dificuldades e a falta de apoio, principalmente das pessoas
de mais idade, que muitas vezes não entendem o fato de alguns buscarem os seus
direitos diante da sociedade. Me lembro de motoristas atropelando protestantes
e idosos esculachando os jovens que foram atrás da mudança. E daí? Se não tiver
dificuldade, não vai ser necessário luta e se não houver luta, não será
valorizada mais essa conquista.
Infelizes mesmo eram os momentos em que tínhamos que concordar com as
avaliações negativas de algumas pessoas. Roubos, saques e arrastões em meio aos
protestos enfraqueciam o movimento cada dia mais. Bancos, lojas e carros
quebrados, destruídos e vandalizados por pessoas que insistiam em decepcionar
qualquer um que os conhecesse, e o pior, os prejudicados talvez não merecessem
isso, podiam até estar lutando junto por uma causa justa e, ao mesmo tempo,
estarem sendo prejudicados por alguns que nem sabiam o que significava essa
causa.
O importante é que acabem com isso e acabem também com essa comodidade
chula tão comum nos brasileiros. É hora de acordar de verdade e fugir dessa
pobreza de consciência, que está sempre acompanhada de uma mordaça sufocante na
boca daqueles que normalmente são dominados pelo medo de falar.
Coluna de sábado, dia 14, na Folha Popular de Teutônia.
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