Capítulo 3: Foto
- Sabe, cara, toda essa tua dúvida quanto à essa “louca” me deixou encucado e, por isso, tenho observado ela. Na semana passada depois que eu vi ela falando com a loira que vem de salto todas as sextas...
- Loira que vem de salto alto todas as sextas? Bastante observador – interrompi.
- Posso continuar? - perguntou Felipe com uma expressão de indignação.
- Ok - autorizei.
- Eu fiquei de olho nela e vi ela caminhar uns 400 metros na beira estrada até subir em uma moto escura atrás de um homem que, de muito longe, parecia ser mais velho que nós dois juntos.
- Tu vê através de capacetes agora? - perguntei ironicamente.
- Vou lhe socar, se não calar a boca.
- Tu não aguenta subir escadas, então nunca que aguentaria me dar mais do que um soco. Ou seja, apanharia muito depois do primeiro soco.
- E você se acha muito forte.
- Pode continuar?
- Sim, mas o mais significativo eu vi ontem no intervalo. Ela saiu da aula acompanhada de uma morena que sempre vem para a aula com uma mochila azul cheia de detalhes em branco e um casaco de moletom que meu pai usaria...
- Bastante observador – me obriguei a observar novamente e Felipe me olhou como se quisesse esganar alguém.
- Obrigado – ele disse com muita ironia. - Só que mais surpreendente do que o moletom da amiga dela foi o que ela mostrou.
- O que ela mostrou? - questionei com certa curiosidade.
- Era isso que eu pretendia falar agora - disse Felipe, enquanto impacientemente me olhava.
- Fale...
- Ela mostrou a foto de uma criança que chamou de “amorzinho” e “filhinho”. “FILHINHO”, cara. Ela saiu de um jeito misterioso da universidade antiga, saiu depois da aula com um cara estranho no meio da noite em um lugar vazio e é mãe. MÃE. Ela é mãe e deve ter uns 15 anos.
- 18, provavelmente – interrompi.
- Tá sabendo bem, hein.
- Foi só um chute – falei pensativo.
- Mas ela é mãe, entende isso?
- Tem certeza? Não entendeu errado? Será que não pode ser uma criança que ela cuida e chama de filhinho?! - questionei, esperançoso.
- Tu tem uma mente muito fértil.
- É você que invade o sistema da universidade para procurar por garotas que possam se interessar em sair.
- Dá pra mudar de assunto? - questionou Felipe e foi buscar um café.
Enquanto ele colocava o dinheiro na máquina eu comecei a me perguntar se tudo aquilo era realmente verdade. É estranho conviver com uma pessoa que você não sabe sequer 1% da história ou da personalidade. Ela realmente tem 18 anos? Ela é mãe? Ela sai com caras mais velhos? E o que ela aprontou para ter saído da universidade anterior? São perguntas que eu já me fazia ou que Felipe me fez começar a fazer. Talvez tudo isso seja besteira nossa. Talvez seja um sonho. Talvez ela seja só mais uma Bárbara perdida no mundo e que foi achada por dois moleques de faculdade. Queria conseguir tirar minhas dúvidas com ela, mas…
- Aposto mais um café que você estava pensando nela - Felipe disse ao interromper meu pensamento.
- Eu estava!
- Cara, tu não pode só pensar nisso. Liga para alguma guria ou… sei lá…
- Transar?
- É uma ótima ideia.
- Eu sei, mas vou para casa. Até semana que vem.
- Valeu, se cuida, e não te enrola por nessa guria.
- Vai dormir!
Depois de chegar em casa eu segui um dos melhores conselhos do Felipe. Abrir umas latinhas. Depois da quinta eu peguei no sono na frente da TV, enquanto assistia Hannibal no Netflix, e acordei com a minha mãe gritando comigo às 6 horas da manhã de uma quarta-feira de feriado.
- Bom dia, mãe! – falei mesmo sem estar com os olhos abertos.
- Tem uma garota na frente de casa chamando por você!
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