3 de novembro de 2014

"A gente não pode"

Como qualquer outra pessoa, sou um pouco refém da rotina: trabalho, casa, academia, futebol... Normalmente nos mesmos dias, horários e com as mesmas pessoas. Eu, porém, tenho algo que sempre foge de qualquer norma de horário, ou dia para ser feito. Justamente a minha coluna de todo sábado.
Às vezes demora para surgir algo realmente interessante para escrever, então ela acaba ficando pronta apenas na sexta-feira, o que deve deixar de cabelos em pé a pessoa que a revisa antes da publicação. Para me redimir, na semana seguinte eu preciso aproveitar cada ideia por mais fútil que seja, para desenvolver um assunto legal e tentar entregá-la na quinta-feira, e talvez na quarta da semana seguinte, o que com certeza é uma exceção. Mas esse texto, foi exatamente um daqueles que ficou para a última hora e surgiu de maneira inesperada.
Imagina você sentado em uma parada de ônibus e esperando ansioso o próximo horário, e então ouve uma conversa quase que flutuando para dentro de seus ouvidos:
- Não adianta a gente olhar pros carros se a gente não pode comprar - afirma a mulher.
- Eu posso! - responde o menino ao seu lado, quase como se estivesse dando uma ordem.
A maneira que o garoto respondeu soou meio rude, quem sabe até desrespeitosa com aquela que parecia ser sua mãe. Entretanto, o detalhe que eu acho essencial ser destacado, além da confiança do garoto ao afirmar que conseguiria comprar um carro que parecia inacessível para a sua mãe, é a descrença da mulher, falando com se fosse "zero" a possibilidade de ela, ou seu filho, adquirirem algo com valor mais significativo.
Fiquei imaginando quantas vezes minha mãe pode ter me dito isso quando ainda era mais novo e sequer me lembro, e talvez ela tenha até falado:
- Não existe a menor chance de você trabalhar em uma rádio - e se não falou, talvez tenha pensado e, mesmo assim, hoje eu estou aqui, trabalhando em uma.
Isso me fez imaginar como tudo é imprevisível. Hoje tu é solteiro, amanhã vai tá namorando. Hoje se apertou para pagar as contas, mas um mês depois já tem condições de comprar o carro que sua mãe disse que você nunca conseguiria. E assim a vida segue, sem certezas e com muitas possibilidades.
E aí, você também duvida que um dia possa conseguir algo com que nunca sequer ousou em sonhar?

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