- Natasha? - perguntei com um tom de surpresa.
- Sabe… Eu estava pensando que a gente podia sair para conversar, o que acha?
- Você viu a hora antes de sair de casa?
- Vai fazer o que hoje? Jogar videogame? Olhar Cavaleiros do Zodíaco no Netflix?
- Eu acabei todas as temporadas de Cavaleiros do Zodíaco.
- Qual é?! Troca de roupa e vamos.
- Ok - concordei.
Diria que Natasha sabe da facilidade com que eu cumpro seus desejos, inclusive o de acordar às 6 horas da manhã de um feriado para conversar enquanto caminhamos pelas ruas vazias e frias do meu bairro. Acho que o fato de termos sido tão amigos durante o Ensino Médio, somado com as oportunidades em que quase namoramos, ajudaram nisso. Claro que o fato de ela ser uma loira de 1,65 e 21 anos também contam.
- O que deu em você? - ela me perguntou com o tom de voz mais leve do mundo.
- Sabe que eu deveria fazer a mesma pergunta, certo? - insinuei com certa ironia.
- Você sumiu nos últimos dias.
- E você sumiu quando me deu um pé bem no meio das nádegas
- Por que não fala bunda?
- Isso não é importante!
- O que é importante?
- Deixar que as coisas aconteçam com naturalidade.
- Você faz isso?
- Não - finalizei, deixando um silêncio absoluto entres nós.
Depois disso, caminhamos por mais um quilômetro até que ela deu a ideia de tomar um café na única padaria que abre antes das 7 horas da manhã em um feriado. Sentamos e Natasha me contou sobre um amigo dela, Bruno. Seria muito estranho se sua ex quase namorada fosse falar com você sobre a nova paixão dela, mas não para Natasha. Não contei a ela sobre Bárbara por falta de tempo, porém, percebeu algo, me questionou e eu neguei ter qualquer novidade.
Falamos por mais duas horas até voltarmos para casa.
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Bárbara não passou pela minha cabeça durante os seis dias que passaram até que eu pudesse encontra-la sentada na sala de aula quieta, tranquila, com um olhar feliz e...
- Ela está com uma aliança na mão direita.
- O que? – questionou Felipe sem demonstrar qualquer interesse no que eu disse.
- É uma aliança dessas de namorados. Anel de compromisso. Uma dessas besteiras da adolescência.
- Eu sei o que significa – afirmou Felipe enquanto girava a cabeça num ângulo de 180 graus e pousava os olhos na mão direita de Bárbara. – Essa aliança não estava ali antes – disse com uma certeza que chegou a me impressionar.
- Mas está - falei com frieza.
- Ela sai de um jeito misterioso da faculdade, sai depois da aula com um cara estranho no meio da noite em um lugar vazio, é mãe e do nada começa a namorar. Sério, isso não é normal. Espero que tu não esteja apaixonado por ela.
- Felipe, presta atenção. Primeiro, eu não estou apaixonado por ela, só tenho a mesma curiosidade que você sobre a vida dela. Segundo, a gente não tem certeza sobre tudo isso. Terceiro, eu não sei qual é o terceiro, mas a gente tem que parar de imaginar e começar a procurar algo concreto.
- Ok, senhor estressadinho - respondeu Felipe com ironia. - Você me contaria se estivesse gostando dela, né? - ele me perguntou, sério e preocupado.
- Eu já teria falado - afirmei.
- Ok. Hoje rola umas cervejas?
- Hoje sim, mas só vamos voltar a tomar cervejas depois de hoje se encontrarmos algo sobre Bárbara, tudo bem?
- Fechado - concordou Felipe enquanto apertava a minha mão.
Depois de umas 10 latas Felipe começou a falar com algumas garotas pelo celular e eu previ que teríamos problemas se ele não conseguisse algo. Com certeza tentaria alguém que estivesse perto de nós e, pelo que eu havia percebido, todas que estavam ao nosso redor também estavam acompanhadas, até que…
- Tu não vai acreditar no que eu encontrei - falou Felipe com uma cara de espanto.
- Achou alguém para “trepar”? - perguntei ironicamente e com o tipo de expressão que Felipe se identificava mais depois de ter bebido.
- Não. É sobre a Bárbara - ele disse e “congelou”.
- Fala logo! - ordenei.
- Ela tem…
- Ela tem?
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