Capítulo 1: Alô, mãe!
- Ai, Duda! Tu nem sabe! Minha mãe me incomodou ontem a noite inteira. Ela acha que eu vou namorar com o Rafael e ela e meu pai amam ele. Quando eu disse que eu não queria nada com o Rafa, ela começou a me xingar. Ai, sério, não aguento mais minha mãe.
- Pelo menos tu tem uma mãe presente na tua vida - eu disse sem demonstrar qualquer interesse no assunto.
- Ai amiga, vamos mudar de assunto. Por favor, sem baixo astral, que hoje é sexta-feira.
- Sexta, sábado, domingo ou segunda, é tudo igual pra mim.
- O que aconteceu contigo hoje?
- Nada, não. Desculpa. É que ontem fiquei a noite inteiro assistindo o DVD da Adele e tu sabe como eu fico quando escuto ela, não é? Passei a noite chorando e lembrando da minha mãe. Quando acordei hoje não tinha paciência com ninguém, e passei o dia inteiro discutindo comigo mesma em um silêncio absoluto.
- Nossa, profundo. Mas tu nunca me contou o que aconteceu com a tua mãe. Não quer...?
- Outra hora! - interrompi antes que ela concluísse a pergunta e encerrei a conversa.
Eu juro que amo Natasha do fundo do meu coração, mas me irrito muito com ela quando começa a reclamar da mãe ou fingir que não é apaixonada pelo Rafa, um amigo com quem ela ficou milhares de vezes, é apaixonada e nunca teve coragem de assumir nada. E o pior é que ele é super bacana.
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Ah, meu nome é Eduarda, ou Duda. Com 19 anos e ainda sofrendo de saudade. Não de um namoradinho qualquer ou de umas das minhas amigas, mas da minha mãe, que sumiu quando eu tinha apenas 12 anos. Na verdade, ela não sumiu, só se separou do meu pai e foi morar em outra cidade. Pelo menos, essa é a história que eu conto para todo mundo quando me perguntam sobre ela.
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- Vai direto pra casa quando terminar a aula? - Natasha me perguntou durante o intervalo.
- Acho que sim - respondi sem sequer olhar para ela.
- O Rafa convidou a gente pra sair com ele e o Felipe depois.
- Acho que não tô muito afim hoje.
- Então deixa pra próxima, vou avisar ele.
- Falando nisso, como tá o teu lance com o Rafa?
- Acho que vou parar de ficar com ele, a gente não tá mais no Ensino Médio e isso que a gente tinha de especial já passou. É só amizade - ela disse, mesmo parecendo que não queria dizer.
- Pensa bem, pra não se arrepender depois - aconselhei.
- Eu vou pensar!
O resto da aula foi simplesmente rápido e entediante até que…
- Natasha, a minha mãe tá me ligando - eu disse sem acreditar.
- Atende - ela respondeu, enquanto virava a cabeça na minha direção mais rápido do que eu jamais imaginei que uma pessoa normal poderia conseguir.
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Eu preciso ser sincera. Na verdade, minha mãe não se separou do meu pai da maneira mais comum. Ela fugiu.
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Eu pensei e repensei diversas vezes se deveria atender, enquanto meu celular vibrava insistentemente na mesa. Não falava com minha mãe há mais de um mês e nem saberia o que dizer quando atendesse a ligação. Eu precisaria de umas duas horas para refletir se realmente era interessante atender. Tinha impressão que ela queria apenas mais um favor, como mudar a senha de alguma rede social ou descobrir como comentar a foto de algum outro homem. Poxa, será que ela não sabe que eu estudo nas segundas à noite?! Claro que não sabe. Faz semanas que não fala comigo, é impossível que se lembre de algo recente relacionado a mim. Então…
- Oi mãe!
PRÓXIMO CAPÍTULO: Só Deus sabe (semana que vem).