"Parar de pagar? Não entendi... Eu já não deixava o homem pagar tudo quando tinha 15 anos, e isso faz mais de duas décadas", falou alguém que no século passado foi exceção e hoje ainda deve perceber que esse mesmo pensamento ainda não superou a barreira quase intransponível presente na cabeça de muitas pessoas.
Bom, o título diz basicamente tudo que eu gostaria de falar. Simples. Está na hora de os homens dividirem a conta do jantar romântico com suas esposas/namoradas, pedirem que elas paguem as compras feitas para o final de semana (chocolate, sorvete, refrigerante e pizzas congeladas) duas ou três vezes no mês, cobrar uma rodada de cerveja na festa do sábado e pedir para encher o tanque de gasolina para domingo ir até a Serra de São Paulo visitar a sua família, e não se sentirem inferiores por não serem capazes de fazer tudo que gostariam ou julgam necessário para agradar uma mulher.
"Eu não gosto que fiquem me bancando, não gosto mesmo", me disse esta semana uma amiga que, com menos de 18 anos, já pensa diferente de muitas mulheres que consideram essencial o homem pagar até a conta do salão de beleza pelo menos duas vezes por semana. E que do primeiro ao último encontro o dinheiro deve sair única e exclusivamente do bolso do seu "macho alfa".
E homem, se você não pagar a conta do jantar no primeiro encontro com a loira da faculdade que você conheceu no início do semestre pode ter certeza que ela não vai te ligar no outro dia, e se você ligar, ela pode atender dizendo "agora não posso falar, estou indo para uma reunião, pode deixar que te ligo quando estiver livre" e então você nunca mais vai encontrá-la, nem no WhatsApp. Mesmo assim, esquece a justificativa mesquinha de que o sexo masculino deve pagar a janta para agradar e depois ser agradado.
A exclusividade do homem em ser o único a pagar o restaurante, o motel e a conta de luz é um tipo de machismo enrustido que vem de muito tempo - tanto de homens quanto mulheres. Do mesmo tempo em que a mulher não podia trabalhar e vivia em casa para agradar ao marido quando ele chegasse da cidade ou do campo. Hoje, ambos chegam cansados do trabalho e merecem ser agradados, certo? E ainda recebem seus respectivos salários no início de cada mês. Nada mais justo do que dividir tarefas.
Isso não serve apenas para as mulheres, para os homens também que podem fazer o almoço, a janta, as compras do supermercado e lavar a louça inclusive em dia de semana. Enquanto as mulheres tiram o dinheiro do próprio bolso para abastecer o carro e comprar umas cervejas para o final de semana.
A mulher pagar a conta não é um direito masculino, e sim feminino. Das mulheres que querem demonstrar que tem liberdade e que são capazes de se tornarem independentes. Pagar tudo para aquela pessoa que você ama não é prova de amor, é prova de que você não acredita que ela consiga acrescentar alguns reais a mais da janta do final de semana em meio ao orçamento do mês.
Então por quê, em muitos casos, o sexo masculino é responsável por pagar todas as jantas?
"Ainda tem homem que faz isso? Cada um paga o quanto pode e todo mundo fica feliz", é o que define melhor a situação, na minha opinião. E, aliás, lembre-se que uma coisa é divisão de tarefas conforme a situação. Outra, bem diferente, é divisão de tarefas baseada em conceitos ultrapassados da atualidade.
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