Como é bom ter um carro velho e uma carteira de motorista nova para nunca mais andar de ônibus, mas daí quando o ponteiro desce e o preço da gasolina sobe, fica complicado. Essa é a hora de quebrar o cofrinho, liberar as moedas, colocá-las no bolso e partir para a parada de ônibus, lugar onde você corre os maiores riscos do seu final de tarde ou início de manhã.
Por exemplo, você vai estudar em uma segunda-feira à noite e é obrigado a dar de bom grado muitos de seus pertences, como o celular que comprou na semana passada, a carteira com o todo dinheiro do pagamento e a foto da ex-namorada, a chave do carro - que está sem gasolina e estacionado na frente do seu trabalho - e toda sua coragem de falar com aquela ruiva lisa, sempre tão silenciosa.
E o pior, não é só ter perdido alguns reais, seu celular novo e a chave do carro que aquele ladrão nunca vai roubar, e sim, ter que encarar todas as segundas-feiras a mesma garota que você sempre teve vontade de convidar para sair e agora não se considera homem suficiente para o fazer, pois lembra a todo instante que ela estava ao seu lado quando se acovardou para aquele bandido só porquê ele apontava uma arma em sua testa.
E assim, passam-se mais de 20 semanas e você sequer pediu o seu primeiro nome e nunca saberá se ela gostava ou não de esperar o ônibus ao seu lado, ou se ela, pelo menos, tinha a curiosidade de saber como você se chama.
No semestre seguinte, na mesma segunda-feira, no mesmo horário e no mesmo lado do banco você vê de longe os cabelos ruivos brilhando no escuro com o reflexo de uma lâmpada distante. E prepara-se para pedir o nome dela com toda a coragem que ainda resta dentro de você, e quando chega perto diz "oi". Simples e direto, sem qualquer outra afirmação, pergunta ou pronome de tratamento. E o silêncio continua na parada por mais 20 semanas, ou mais.
Do outro lado da história
Ele me vê todas as segundas-feiras esperando ônibus e, por mais de um ano, sequer pediu meu nome. O que será que tem de errado comigo?
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