Um celular pode mudar sua idade?

Eu tive 19 anos por quase 365 dias, então, de repente, me senti 31 anos mais velho durante um pouco mais de três semanas e, novamente, volto para a juventude, desta vez com 20 aninhos.
Não deve estar entendendo isso, certo?
Então imagine se você tivesse apenas dois ou três anos a mais do que sua maioridade, acostumado com o mundo dos smartphones, aplicativos, redes sociais e viciado em jogos irrelevantes de celular. Então... Assim que eu era até o início de março deste ano, quando meu celular "se estrepou" - ou seja, estragou.
Quem tem a minha idade, ou próximo disso, deve entender como é estranho ter que olhar para frente, para os lados e para as pessoas ao seu redor, não mais para a tela escura de um celular branco com a imagem de uma maçã mordida atrás.
É como ter 50 anos pela primeira vez - não que as pessoas desta idade não possam ter certos costumes tecnológicos tão jovens, mas não é comum, confesse. Você é obrigado a viver no mundo real por mais tempo. Quando sai da frente do computador deixa de estar conectado. Quando está na cama, dorme. Não fica mais com a aquela luz insuportável aparecendo em baixo da sua porta, perfeita para acordar aquele que dorme no quarto da frente.
No ônibus, tem que dar "bom dia" para quem senta ao seu lado, e não tem como fingir que não viu a senhora de 60 anos em pé logo à sua frente, pois não tem para onde olhar. Vai escapar como? Jogando Sudoku em um celular simples e novo, ou jogando o famoso e inesquecível "jogo da cobrinha" em um celular antigo?
Um dia seu celular vai se revoltar contra você e daí chega de fotos na frente do espelho, selfies com caretas ridículas, conversas até tarde no celular, smartphone na mão até durante a formatura da sua irmã mais nova. Acabam as fotos com 269 curtidas no Instagram com efeito pálido e reluzente, postagem de 140 caracteres no Twitter e horas perdidas com o Pou ou Candy Crush.
E aí, depois que isso acontecer, já imaginou qual vai ser a sua reação? Ou vai se tornar um velho de 18 anos, ou simplesmente um jovem sem celular que reconhece a existência de um mundo enorme ao seu redor.
Pode começar a escolher.